segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Depoimento do Padre Fernando Zolli

                Um breve testemunho do meu irmão “decano” Padre Angelo La Salandra.
Eis alguns traços deste homem de Deus e do povo pobre.
            O padre Angelo La Salandra me acompanhou nos primeiros passos da minha vida sacerdotal e missionária.
            “Eu chamava-o, com carinho, o nosso “decano”, pois ele era o mais idoso dos missionários combonianos, originários da pequena cidade de Troia (FG – Puglia – Italia) e eu o mais novo. Me dizia que as raízes da nossa gente eram boas e todos os filhos e filhas desta terra deviam seguir os passos dos antepassados e ficar firmes na caminhada e na vocação: ninguém tinha desistido, me dizia -- e precisavam ficar firmes até o fim da vida. Ele me dava lição de vida e de firmeza no compromisso assumido, sem receio e com muita humildade.
            Sempre atento e pronto a encorajar-me na caminhada. Toda vez que celebrava, ele me escutava e no final da Missa me dava conselhos e me dizia que era muito importante pregar e testemunhar a Palavra de Deus, com clareza e com uma linguagem simples para que o povo pudesse bem entender.
            No Brasil onde tive a oportunidade de ficar junto com ele na mesma comunidade da casa provincial, em São Paulo, ele sempre me deu aquele testemunho de fidelidade à oração: encontrava-o de frequente na pequena capela da nossa casa, em profunda oração.
             De noite ele saía e dava voltas no bairro para encontrar os vigias, que eram muitos naquela região da avenida Francisco Morato, a causa da insegurança. Levava a Palavra de Deus, mas sobretudo escutava e para todos havia uma palavra de conforto e de conselho. Levava também comida e roupas para os que precisavam disso. Depois da janta ele saía com a Bíblia e a sacolinha dos alimentos.
            Para problemas de saúde devia seguir um regime muito rígido e ele nunca se queixava disso; nunca vi ele exagerar com a comida e bebida: muito sóbrio e muito atento à partilha e às necessidades dos confrades.
            Uma ternura e uma atenção particular ele me manifestou, quando voltei da República do Congo e precisava de tratamento médico. Ele veio me buscar no aeroporto de São Paulo e me deu o abraço fraterno; isso me surpreendeu, pois ele, de costume, era reservado e alheio à manifestação demasiado afetivas;  vi que era preocupado com a minha saúde. Ficou perto e me visitou todos os dias durante a minha estadia no hospital.
            Volta e meia eu falava no dialeto da nossa região: ele sorria, esboçava umas palavras, mas depois prosseguia na língua brasileira.
            No meu quarto, até hoje, fica o retrato dele junto aos outros missionários, como o padre Sartori, padre Bizzarro e outros, que me ensinaram com a vida e o testemunho o caminho da missão e do compromisso com Deus pelos pobres. Pela manhã quando acordo ele é o primeiro a me olhar e me parece ainda de escutar a voz dele que me chama para a missão de cada dia.

Fernando Zolli
Missionário Comboniano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário