quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Depoimento do Pe. Enrico Galimberti

Pe. Enrico Galimberti
(Superior da Casa dos Combonianos de São José do Rio Preto, São Paulo.)
Pe. Enrico Galimberti registra os últimos momentos de Pe. Ângelo:

“Às 19,20 h de 7 de dezembro de 2000, depois do canto das vésperas da solenidade da Imaculada Conceição, Pe. Ângelo entrou em agonia. Mais uma vez lhe havia ministrado a unção dos enfermos e dado a absolvição geral. Às 20,20 h, morreu serenamente. Veio imediatamente à minha mente o salmo 122 que diz:
‘Que alegria quando me disseram: iremos à Casa do Senhor’. Pe. Ângelo tinha entrado para a Casa do Senhor com as mãos cheias e o coração repleto de tudo aquilo que havia doado na sua longa e fecunda existência de sacerdote, missionário, amigo dos pobres. E era muito.”
Pe. Enrico continua:
“Agora enquanto escrevo, são 0,20 h de 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição, da qual Pe. Ângelo era devotíssimo. Mas é também o 58.° aniversário de sua ordenação sacerdotal. Ele está agora no Santuário de São Judas Tadeu, com uma auréola branca, o terço entre as mãos, o Livro das Regras e o crucifixo da profissão religiosa no peito.
O povo já acorreu e ficará de vigília até as 15 h quando o Bispo diocesano celebrará a missa e, depois, às 16 h, se encaminhará ao Cemitério São João Batista para ser sepultado. [...]
Sua morte foi, pois, como a resposta de Maria às suas preces. Considerando sua vida e que, exatamente naquele dia, celebrava os 58 anos de sacerdócio, deve-se dizer que não poderia haver para ele um momento mais oportuno para entrar no reino dos céus, onde a grande festa em honra da Imaculada estava para começar.”

In Maria do Socorro Coelho Cabral. Pe. Ângelo La Salandra – Uma Vida, Uma Missão. Balsas, 7/12/2001, p. 91

Depoimento de Dom Franco Masserdotti

Dom Franco Masserdotti (in memoriam)
(Bispo de Balsas, dentre outros cargos, exerceu o de presidente do CIMI – Conselho Indigenista Missionário e responsável pela Missão Ad-Gentes do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM. Fundador da “Associação dos Amigos de Pe. Ângelo”. Foi nosso maior incentivador. Faleceu em Balsas, sul do Maranhão, em 17 de setembro de 2006, vítima de atropelamento.)
 “O caminho missionário de Pe. Ângelo e a herança espiritual que ele nos deixou sem dúvida se inspiraram nos exemplos do Bem Aventurado Daniel Comboni, fundador dos Missionários Combonianos de quem Pe. Ângelo foi filho devoto e obediente.
Uma característica marcante na vida de Daniel Comboni foi a profunda e íntima comunhão que ele tinha com Cristo, Bom Pastor, que morreu na cruz de braços abertos, para dar a vida e unir todos os povos no grande abraço do Pai. Foi esta fé, esta união com Deus que lhe dava força e esperança nas dificuldades da missão.
Pe. Ângelo foi digno discípulo de seu fundador. Era um homem de oração, vivia constantemente unido a Deus e a Maria, a “Mãezinha Querida”. Para ele, Cristo era o centro e o protagonista da missão que levava à frente. Aí ele encontrava força e coragem.
Pe. Ângelo sempre se sentia feliz e empolgado, rezando pelas pessoas que era chamado a servir. Era um intercessor junto a Deus em favor de seu povo.
O exemplo dele nos recorda que a oração é o respiro da alma do cristão e que  todos devemos colocar o Senhor como centro e protagonista de nossa vida e de nosso compromisso cristão.
Daniel Comboni tinha feito uma opção clara e decidida pelos pobres e abandonados que ele identificou nos povos da África dizimados pela fome, pelas doenças, pelas injustiças e opressões do colonialismo e da escravidão, esquecidos pela solidariedade internacional e sem a esperança que brota do encontro com a pessoa de Jesus.
Também Pe. Ângelo fez uma opção radical pelos pobres. Acolhia-os com amor e respeito. Visitava constantemente os doentes e os presos, e preocupava-se com os meninos de rua.
Sonhava poder trabalhar com os indígenas. Vivia com um jeito simples e humilde, sendo solidário com os pobres.
Ao mesmo tempo, convencido de que não bastava ‘dar o peixe’, mas é necessário ensinar a pescar’, se empenhou muito no campo da educação, dando atenção particular à formação dos futuros Presbíteros e dos futuros líderes da Sociedade.
Sem dúvida sua obra prima foi o Colégio São Pio X, que ele fundou e ao qual deu o melhor de si. Sua opção reinterpretada hoje na nossa realidade, nos estimula e nos compromete em favor da vida, nas situações em que ela é mais ameaçada, em que projetos econômicos e sociais baseados no egoísmo e na competição levam ao prevalecer do mais forte sobre o mais fraco, levam ao materialismo prático, ao desequilíbrio ecológico, à violência e à corrupção.
Pe. Ângelo nos ensina que a fidelidade a Cristo e ao Evangelho exige um estilo de vida buscado na simplicidade, na partilha com os pobres, na solidariedade, nas relações humanas e sociais e no compromisso político.
Há um outro aspecto em que Pe. Ângelo se revela discípulo de Daniel Comboni: a paixão pelo Reino e a generosidade no serviço missionário. Comboni dizia preferir morrer a renunciar a ser missionário na África. Pe. Ângelo até os últimos dias de sua vida, parecia sentir, no profundo de seu coração, o suspiro de São Paulo: ‘Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho’ (1Co 9,16).
Com seu entusiasmo, com sua dedicação total, ele nos ensina que a vida não é uma propriedade particular de que possamos gozar egoisticamente. É, antes, um dom para os outros. Melhor ainda, é um ‘lava-pés’ (cf Jo 13, 4-15).
Ele nos recorda, com seu exemplo, que o batismo que temos recebido não é um privilégio, nem um passaporte para o Paraíso; mas é um compromisso para sermos generosos missionários e missionárias do amor que brota de Deus e que deve invadir e transformar o mundo.
Há um lindo poema do bispo dos pobres, Dom Hélder Câmara, que aqui desejo recordar:
Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu.
É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da vida.
É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos:
A humanidade é maior.
Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros.
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.
E, se para descobri-los e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo.
Este poema se aplica muito bem a Pe. Ângelo. Ele agora vive feliz no coração de Deus. Ele interceda por nós, para que rezemos como ele, bons samaritanos do amor e promotores da vida e da esperança neste mundo movido pelo egoísmo, pelo medo e pela morte.
Balsas, Festa de Todos os Santos, 2001. Dom Franco, Bispo diocesano de Balsas
In Apresentação do livro: Pe. Ângelo La Salandra -- Uma Vida, Uma Missão, de Maria do Socorro Coelho Cabral, pp. 7-9.

Depoimento de Maria do Socorro Coelho Cabral

Maria do Socorro Coelho Cabral (in memoriam)
(Autora do livro Pe. Ângelo La Salandra - Uma Vida, Uma Missão. Mestrado em História pela PUC-SP e doutorado pela Universidade de São Paulo. Publicou, dentre outras obras, Caminhos do gado -- obra de referência sobre a colonização do sul do Maranhão. Fundou com Dom Franco a “Associação dos Amigos de Pe. Ângelo”, com dois objetivos principais: dar continuidade à história de Pe. Ângelo e ajudar estudantes carentes a continuar seus estudos.)
“Com certa freqüência Pe. Ângelo me escrevia, como escrevia a todos os seus amigos e ex-alunos de Balsas e dos lugares por onde passou na sua tarefa missionária.
Mas, em 22 de novembro de 2000, ele me escrevia para me comunicar que estava me enviando cópia de seu diário para que dele eu fizesse uso oportuno.
Minha emoção só não foi maior que minha responsabilidade diante de tão nobre e difícil desafio.
Eu teria que tirar do precioso livro de sua vida tudo que pudesse servir
“para animar o povo cristão do espírito missionário e suscitar alguma vocação missionária entre os jovens”.
O ardor missionário, desejando ver proclamado o evangelho da salvação aos povos do mundo inteiro, acompanhava-o durante toda sua vida.
Quinze dias após, no dia 7 de dezembro de 2000, na vigília da festa da Imaculada Conceição, morria o ardoroso missionário comboniano, Pe. Ângelo La Salandra. Era essa data especial para ele, tanto pelo seu amor filial a Maria, como por ser o dia de aniversário de sua ordenação sacerdotal.
No já longínquo 8 de dezembro de 1942, na distante cidade de Tróia -- Foggia, Itália, no Santuário de Nossa Senhora Medianeira, o jovem Ângelo, aos 23 anos, em meio a alegrias e júbilos, era consagrado sacerdote diocesano.
Esse dia 8 de dezembro de 2000, foi festejado, com certeza, de forma diferente dos anteriores, em meio às alegrias celestiais, recebendo, como servo humilde do Senhor, o justo salário, o triunfo da vitória.
Foram 58 anos de vida de renúncia, orações, contemplações, sofrimentos, alegrias, sacrifícios, trabalho, muito trabalho na messe do Senhor.
Espírito forte, combativo, entusiasta, Pe. Ângelo possuiu, durante seus 81 anos de vida, um coração que “ardia do fogo de amor que nutria por Deus e pelos irmãos”.
Como missionário, seu desejo foi sempre fazer a vontade do Senhor, intento esse várias vezes expresso na frase que tanto o identificava: “vontade do Senhor, paraíso meu”.
Em função disso, procurou aceitar tudo aquilo que o Senhor permitia que lhe sobreviesse, mesmo quando, muitas vezes, o que lhe era apresentado custasse-lhe sacrifícios enormes e difíceis.
Pretendemos aqui tão-somente narrar alguns fatos que consideramos significativos da vida de Pe. Ângelo.”
Entender historicamente, analisar, compreender, de forma ampla e profunda, à luz das múltiplas determinações históricas, vida rica e complexa como a de Pe. Ângelo, não foi nosso propósito, até mesmo por razões de limitação de tempo.
Este trabalho, pois, traz um relato simples, cronológico, de alguns fatos que mostram, de alguma forma, traços da personalidade, aspectos da atuação desse grande educador.
Nele também procuramos mostrar, de uma maneira sucinta e bem geral, a inserção, no contexto sócio-cultural sul-maranhense, da ação missionária de Pe. Ângelo e dos Combonianos na região, no período de 1960 a 1975.
A missão de Pe. Ângelo foi marcada profundamente pela sua concepção de mundo. Essa sua visão da vida e das coisas foi permeada por elementos vários, às vezes até contraditórios, ligados a épocas históricas diferentes e a momentos singulares e marcantes da vida da Igreja, como foram os dos Concílios de Trento e Vaticano II. Além desses elementos externos, havia também fatores individuais, familiares, forjando a vida e a trajetória missionária de Pe. Ângelo, fazendo dele esse homem singular, criativo, contemplativo, realizador.
Através dos vários fatos narrados, podemos observar um sacerdote que acolheu, que se preocupou e se doou, procurando levar a Jesus os “filhinhos”, sobretudo os mais pobres e esquecidos: encarcerados, mendigos, migrantes nordestinos pobres, doentes abandonados, favelados e outros. Procurou ajudar, além desses, a tantos outros jovens e adultos, a quem orientou, educou e formou.
Ao mesmo tempo em que se mostrava rígido, era humilde, amigo, generoso, amoroso.
Achamos que o segredo para o fato de Pe. Ângelo ter atraído tantas pessoas a ele, marcando-lhes positivamente a formação e o caráter, foi sua vida íntegra, transparente, simples, despojada, plena da graça divina, da fé, do amor. Pensamos que o grande segredo mesmo foi o amor, essa força que o contagiou e irradiava a todos que dele se aproximavam, levando-os a sentirem-se amados e a crescerem moral e espiritualmente.
Por isso creio que as limitações, as falhas que, com certeza, fizeram parte de sua vida foram superadas por esse sentimento que, predominando, tudo transformou, fazendo aparecer e florescer as qualidades, as virtudes que marcaram sua vida e a de tantos outros por ele influenciados.
Madre Tereza de Calcutá nos ensina: “Cristo não nos perguntará quantas coisas fizemos, e sim o quanto de amor colocamos em nossas ações.”
Pe. Ângelo, como Santa Teresinha, doutora da Igreja, descobriu que a vocação maior do cristão é amar e procurou pautar toda a sua vida por esse prisma. Em função disso, tornou-se um sinal de presença viva e modeladora de Deus entre nós.
Narrar alguns fatos de vida tão fecunda e profundamente mergulhada no mistério de Cristo morto e ressuscitado é tarefa sedutora e edificante.
Os acontecimentos descritos, a nível da superfície, foram colhidos em seu Diário, nas cartas-circulares que escreveu aos amigos e ex-alunos, na obra biográfica de Lourenço Gaiga sobre Pe. Ângelo e ainda no grande número de testemunhos que nos chegaram de pessoas que o conheceram, ou que com ele conviveram.
Pedimos a luz do Alto, para que sejamos fiéis aos projetos de Deus e aos propósitos mencionados por Pe. Ângelo, ao nos confiar cópia de seu Diário.”

In Introdução do livro Pe. Ângelo La Salandra -- Uma Vida, Uma Missão. Balsas, 7-12-2001pp.11-13.

Depoimento do Pe. João Audísio

Pe. João Audísio
(Professor no Colégio S. Pio X, escreveu a Pe. Ângelo sobre a transferência deste para Messina, na Itália.)
“Ficamos todos tristes pela notícia que nos foi dada. Todos nós contávamos com sua presença, fundador e animador do Colégio Pio X, onde ninguém tem a coragem de assumir a responsabilidade da direção. Você é muito estimado por todos, e por isso, uma tomada de posição sua vale mais do que qualquer outra.
Graças ao bem que está fazendo o Colégio na formação dos leigos, sempre encontrou grandes dificuldades e inimigos ferrenhos: anticlericalismo maçônico, espiritismo e protestantismo.
Somente você conseguia fazer frente a todos.”

In Maria do Socorro Coelho Cabral. Op cit, p.. 54.

Depoimento do Irmão Domingos Barbieri

Irmão Domingos Barbieri (Confrade comboniano em São José do Rio Preto, São Paulo.)
“Nos últimos tempos, em São José do Rio Preto, intensificou seu ministério, dando-lhe um ritmo ainda mais cansativo. Voltava altas horas da noite, comia  o que sobrava e aqui, com o calor que faz, a comida estraga com facilidade. Ele engolia rapidamente sem esquentar. Todos reparavam que, naquele modo de vida, não poderia durar muito. Não se podia falar-lhe, porque tinha sempre razão. Puxava continuamente os pobres no assunto, dizendo que, se tivessem aquela comida, se diriam afortunados. E dizia mais: que era necessário sofrer, porque as almas se pagam como Cristo pagou na Cruz. O que poderiam dizer os confrades, defrontando-se com essas razões?”

In Maria do Socorro Coelho Cabral. Op cit, pp. 87-88.

Depoimento do Sr. Márcio da Cunha

Sr. Márcio da Cunha
(Morador em São José do Rio Preto.)
“Tive a grande dádiva de Deus de conviver algum tempo, curto, infelizmente, com o santinho Ângelo La Salandra. Figura carismática, celebrando a Santa Missa, incentivando e rezando o terço e em suas atitudes de homem de Deus. Transfigurava o próprio Cristo. É um intercessor que temos junto a Deus. Não nos esqueçamos de invocá-lo, para recebermos as graças de Deus.”

In Maria do Socorro Coelho Cabral. Op cit, p. 88.

Depoimento de Dom Franco Masserdotti

Dom Franco Masserdotti
(Trecho de carta enviada por Dom Franco ao irmão de Pe. Ângelo,
Monsenhor Nicola.)
“Desejo apresentar ao senhor e a todos os familiares, em meu nome e de toda a Diocese de Balsas, os fraternais pêsames acompanhados por nossa oração pelo Pe. Ângelo e por vocês todos.
Todos nós e nosso povo ficamos muito tristes pela notícia da morte de Pe. Ângelo que foi para Balsas e para toda a região uma presença muito significativa, seja do ponto de vista eclesial, seja do ponto de vista do progresso social e sobretudo no campo da educação. Pe. Ângelo entrou na história de nossa região em modo permanente e vital, pela fé,pelo espírito de doação e generosidade. Por isso é considerado por todos como um santo e um pai de fé. Temos a certeza de que Pe. Ângelo já vive na casa do Pai celestial. E agora continua a interceder por todos nós, sobretudo pelos pobres que ele tanto amou. Será nosso empenho assumir sua herança para servir sempre e melhor nosso povo.”
In Maria do Socorro Coelho Cabral. Op. cit, p. 93.
Dom Franco escreveu também:
“Pe. Ângelo entrou na história da nossa Diocese e região em modo permanente e vital, pela sua fé e espírito de doação, sendo assim considerado por todos como um santo”.

In “santinho-recordação” Pe. Ângelo La Salandra, 7/12/2001.