quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Depoimento de Pe. Gesuíno Podda

Pe. Gesuíno Podda
(Exerceu o cargo de Provincial dos Combonianos do Brasil-Norte.)
Pe. Gesuíno nos apresenta alguns traços da personalidade de Pe. Ângelo nos anos sessenta:
 “Pe. Ângelo é, sem dúvida, uma figura extraordinária e profética que deixou sua marca na cidade de Balsas que o tempo não apagará. Mas, como em todas as realidades humanas, além dos méritos, há também os pontos sombrios. O Santo também é uma fotografia em preto e branco. A santidade não é impecabilidade, não é um dom gratuito de Deus, mas uma conquista que exige uma guerra sem trégua contra o que se opõe ao projeto de Deus. Santo é aquele que caminha, mesmo claudicando com os pés inchados e ensangüentados, seguindo a Jesus. É o caso de Pe. La Salandra.
Conheci-o de perto, quando foi meu superior provincial nos anos sessenta. Naquele tempo, o Provincial não era eleito pela base, mas nomeado diretamente pelo superior geral.
Pe. Ângelo tinha parado no tempo. Inspirava-se no Concílio de Trento. Identificava a vontade do superior com aquela de Deus, assumindo, às vezes, atitudes duras, não sempre justas.
Como Provincial, não pôde fazer melhor, porque era completamente tomado pelo Seminário e pelo Colégio.
Todavia soube criar uma síntese muito significativa, descobriu pólos nucleares da vida cristã: Deus e o Homem. Ângelo era um contemplativo; passava muito tempo em oração até tarde da noite, especialmente quando a situação do Colégio S. Pio X se tornava problemática.
Muitas vezes devia viajar até São Luís para tratar de problemas da escola com a Secretaria da Educação do Estado e não raras eram as vezes em que esperava horas, longas horas para falar com o secretário, sempre com a  arma em punho: o terço.
Formou jovens para a vida sacerdotal, alguns dos quais chegaram à meta e trabalham na Diocese de Balsas e alguém até em São Luís.”
Pe. Gesuíno fala mais uma vez dele:
“A Diocese de Balsas havia servido, como suplente, àquela enorme região com importantes obras sociais: Hospital São José, Colégio S. Pio X, Escola Normal etc. No início dos anos oitenta, a Igreja empobreceu, entregando o Hospital aos camilianos, o Colégio [S. Pio X] aos Maristas e a Escola Normal ao Estado. Assim perdia a aparência de Igreja rica e poderosa. Mas empobreceu mais ainda com a partida de Pe. Ângelo que, de noite, no silêncio, acompanhado pelo Irmão Soares, ia trabalhar em outras terras e sob outros céus. Todavia ficou sempre em contato com seus ex-alunos (que não são poucos) através de cartas-circulares cheias de fé e entusiasmo juvenil.
Animado sempre pela esperança e otimismo, não envelheceu e conservou sua identidade de homem de Deus e dos pobres até o túmulo.”
In Maria do Socorro Coelho Cabral. Pe. Ângelo La Salandra – Uma Vida, Uma Missão. Balsas, 7/12/2001, pp. 53 e 55.

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