Sr. Isidro Almeida
(O Sr. Isidro Almeida conheceu Pe. Ângelo quando este saía pelas redondezas de Viseu, Portugal, à procura de vocações. Estudou no Seminário de Viseu. Atualmente mora em Gafanha de Nazaré, a 5 km de Aveiro. É a nossa ponte de ligação com Portugal. Pediu a vários amigos portugueses que pesquisassem sobre Pe. Ângelo em Canas de Santa Maria, Paço de Arcos e Viseu e, graças a ele e a esses amigos, como o Sr. José Luís Ferreira, já estamos recebendo vasta documentação. O nosso muito obrigada aos amigos portugueses.)
“O PRIMEIRO ENCONTRO COM O Pe. ANGELO LA SALANDRA
Corria o mês de Maio de 1955 e já todos nós, meninos com 11 anos, só pensávamos que estava próximo o fim daquele ciclo de 4 anos de escolaridade. Não que para mim esse período tivesse sido difícil ou constrangedor, mas porque, necessariamente, a etapa seguinte da vida seria um pouco mais dura: o trabalho no campo era o destino de todos nós, salvo raríssimas excepções. Naquele tempo, continuar os estudos era privilégio dos filhos de pais abastados, e, na minha aldeia, era coisa que não existia.
Era uma tarde normal de aulas, quando o professor, após os 15 minutos de recreio habituais, nos mandou sentar e informou que, a partir daquele momento, não haveria mais qualquer tipo de exercícios escolares e que prestássemos atenção à pessoa com quem iríamos passar o resto da tarde.
Nesse momento, entra pela porta principal uma figura que ficou gravada para sempre na minha mente: um padre na casa dos 30 anos, magro, com uma batina ligeiramente diferente da que usava o nosso pároco e, o que mais nos chamava a atenção, com uma barba semelhante à que estávamos habituados a ver nos reis e heróis da nossa História.
E começou de imediato a sua intervenção: A África era um continente em que Deus ainda era ainda um desconhecido para a maioria dos seus habitantes, que urgia o envio de mensageiros para anunciar o Evangelho a essas gentes e que ele fazia parte de um grupo de missionários com destino a essas paragens. Nós, na Europa, éramos uns privilegiados, por, há séculos, termos o dom da fé, mas que não nos podíamos esquecer dos nossos irmãos africanos, das crianças semelhantes a nós, apenas diferentes na pele.
Aquele seu jeito de elucidar e cativar as pessoas funcionou em pleno. Após meia hora de conversa, já quase todos nós estávamos na disposição de abandonar tudo e todos e segui-lo para onde quer que fosse e quando ele perguntou quem dos alunos da 4.ª classe (a finalista) gostaria de ir para o Seminário das Missões estudar para, um dia, poder ir para África, todos éramos voluntários.
Por indicação do professor, fui chamado para ter uma conversa com o Pe. Angelo (sim, agora já sabia o seu nome). O meu ambiente familiar, as minhas perspectivas para o futuro, a minha dedicação a Deus foram o tema da conversa. E como eu me sentia bem a falar com ele.
Ficou então assente que voltaria a passar pela minha aldeia num dos meses próximos para uma conversa mais profunda com os meus pais.
No início de Agosto, num dia calor tórrido, andávamos a trabalhar numa quinta a cerca de 3 km da aldeia, quando avistámos dois vultos, que desciam o carreiro em nossa direcção. Não tive dúvidas que um deles era o P.e Angelo. Mas nunca poderia imaginar que, em pleno Verão, com aquele calor das 4 horas da tarde ele se aventurasse a uma caminhada daquelas, sobretudo vestido, como sempre, com a sua batina preta. O seu meio de transporte era a velha mota BSA, mas aqueles caminhos só mesmo para carro de bois. Recordo-me que o seu primeiro pedido foi um pouco de água. Ainda hoje admiro o sacrifício daquela viagem. Poderia esperar pelo nosso regresso à aldeia, poderia ter pedido a quem lhe foi indicar o caminho que desse o recado para regressarmos, poderia ter adiado o nosso encontro, mas preferiu ser um de nós, calcorrear aqueles caminhos, àquela hora, demonstrando o interesse que tinha nesse encontro. E tudo ficou, efectivamente, resolvido nesse dia.
Dois meses depois, eu estava no Seminário de Viseu. O P.e Angelo, entretanto, foi nomeado pároco em Paço de Arcos (arredores de Lisboa) e apenas tive a oportunidade de o rever numa visita colectiva a essa paróquia. Sei que mais tarde foi para o Brasil onde desenvolveu obra de vulto, mas, não fosse a D. Iracema Fantaguci contactar-me, todas estas recordações se iriam esfumando com o tempo.
(O Sr. Isidro Almeida conheceu Pe. Ângelo quando este saía pelas redondezas de Viseu, Portugal, à procura de vocações. Estudou no Seminário de Viseu. Atualmente mora em Gafanha de Nazaré, a 5 km de Aveiro. É a nossa ponte de ligação com Portugal. Pediu a vários amigos portugueses que pesquisassem sobre Pe. Ângelo em Canas de Santa Maria, Paço de Arcos e Viseu e, graças a ele e a esses amigos, como o Sr. José Luís Ferreira, já estamos recebendo vasta documentação. O nosso muito obrigada aos amigos portugueses.)
“O PRIMEIRO ENCONTRO COM O Pe. ANGELO LA SALANDRA
Corria o mês de Maio de 1955 e já todos nós, meninos com 11 anos, só pensávamos que estava próximo o fim daquele ciclo de 4 anos de escolaridade. Não que para mim esse período tivesse sido difícil ou constrangedor, mas porque, necessariamente, a etapa seguinte da vida seria um pouco mais dura: o trabalho no campo era o destino de todos nós, salvo raríssimas excepções. Naquele tempo, continuar os estudos era privilégio dos filhos de pais abastados, e, na minha aldeia, era coisa que não existia.
Era uma tarde normal de aulas, quando o professor, após os 15 minutos de recreio habituais, nos mandou sentar e informou que, a partir daquele momento, não haveria mais qualquer tipo de exercícios escolares e que prestássemos atenção à pessoa com quem iríamos passar o resto da tarde.
Nesse momento, entra pela porta principal uma figura que ficou gravada para sempre na minha mente: um padre na casa dos 30 anos, magro, com uma batina ligeiramente diferente da que usava o nosso pároco e, o que mais nos chamava a atenção, com uma barba semelhante à que estávamos habituados a ver nos reis e heróis da nossa História.
E começou de imediato a sua intervenção: A África era um continente em que Deus ainda era ainda um desconhecido para a maioria dos seus habitantes, que urgia o envio de mensageiros para anunciar o Evangelho a essas gentes e que ele fazia parte de um grupo de missionários com destino a essas paragens. Nós, na Europa, éramos uns privilegiados, por, há séculos, termos o dom da fé, mas que não nos podíamos esquecer dos nossos irmãos africanos, das crianças semelhantes a nós, apenas diferentes na pele.
Aquele seu jeito de elucidar e cativar as pessoas funcionou em pleno. Após meia hora de conversa, já quase todos nós estávamos na disposição de abandonar tudo e todos e segui-lo para onde quer que fosse e quando ele perguntou quem dos alunos da 4.ª classe (a finalista) gostaria de ir para o Seminário das Missões estudar para, um dia, poder ir para África, todos éramos voluntários.
Por indicação do professor, fui chamado para ter uma conversa com o Pe. Angelo (sim, agora já sabia o seu nome). O meu ambiente familiar, as minhas perspectivas para o futuro, a minha dedicação a Deus foram o tema da conversa. E como eu me sentia bem a falar com ele.
Ficou então assente que voltaria a passar pela minha aldeia num dos meses próximos para uma conversa mais profunda com os meus pais.
No início de Agosto, num dia calor tórrido, andávamos a trabalhar numa quinta a cerca de 3 km da aldeia, quando avistámos dois vultos, que desciam o carreiro em nossa direcção. Não tive dúvidas que um deles era o P.e Angelo. Mas nunca poderia imaginar que, em pleno Verão, com aquele calor das 4 horas da tarde ele se aventurasse a uma caminhada daquelas, sobretudo vestido, como sempre, com a sua batina preta. O seu meio de transporte era a velha mota BSA, mas aqueles caminhos só mesmo para carro de bois. Recordo-me que o seu primeiro pedido foi um pouco de água. Ainda hoje admiro o sacrifício daquela viagem. Poderia esperar pelo nosso regresso à aldeia, poderia ter pedido a quem lhe foi indicar o caminho que desse o recado para regressarmos, poderia ter adiado o nosso encontro, mas preferiu ser um de nós, calcorrear aqueles caminhos, àquela hora, demonstrando o interesse que tinha nesse encontro. E tudo ficou, efectivamente, resolvido nesse dia.
Dois meses depois, eu estava no Seminário de Viseu. O P.e Angelo, entretanto, foi nomeado pároco em Paço de Arcos (arredores de Lisboa) e apenas tive a oportunidade de o rever numa visita colectiva a essa paróquia. Sei que mais tarde foi para o Brasil onde desenvolveu obra de vulto, mas, não fosse a D. Iracema Fantaguci contactar-me, todas estas recordações se iriam esfumando com o tempo.
Isidro Almeida (Portugal). Setembro de 2008.
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