quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Depoimento do Professor João Tavares

Professor João Tavares
(Ex-aluno de Pe. Ângelo no Seminário de Viseu, Portugal. Enviou-nos o seu testemunho em agosto/2008.)

1. Conheci o Pe. Ângelo em Viseu. Ele foi meu primeiro Diretor Espiritual. Além disso ele era ecónomo do Seminário, isto é, tinha a seu cargo não deixar faltar comida para mais de cem seminaristas na voracidade da adolescência e também tinha de arranjar madeira, telha, tijolo, pedra e cimento para levar a cabo a construção do Seminário das Missões. Mais ainda ele assumiu também, com Pe. Carlesi, futuro Bispo de Balsas, o recrutamento vocacional, indo na velha e única moto Guzzi, pelas paróquias incentivar a vocação missionária, nas escolas e nas igrejas. Foi assim que eu, sabendo que um meu primo ia para o Seminário das Missões, chamado pelo Pe. Ângelo que o recrutou na Escola de Carvalhais, de onde eu já tinha saído havia um ano, me apresentei ao Reitor do Seminário (mediante carta de meu pai), me oferecendo para fazer o período probatório, em Agosto de 1952.
2. Pe. Ângelo, além de muito piedoso e grande devoto de Maria, sempre foi um padre muito entusiasmado... diria até agitado, para não dizer vulcânico.
3. Foi amigo de Salazar o que, no fim da ditadura, foi muito importante para os combonianos em Portugal, quando eles, por suas atitudes claras e firmes, em Portugal e Moçambique, veio a ser de muita utilidade. Quando Paulo VI foi à Índia, a revista missionária comboniana ALÉM-MAR fez um bom trabalho jornalístico e os combonianos foram perseguidos por isso, pois Portugal estava de relações cortadas com a Índia devido à anexação de Goa, Damão e Diu pelo Pandita Nheru, na década de 50.
4. O Pe. Ângelo veio para Balsas por volta de 1960, onde ficou até por volta de 1978. Foi Superior Provincial dos Combonianos e renomado Diretor, por longos anos, do Seminário e do Colégio Pio X, um dos melhores do Maranhão, senão o melhor. Ali se formaram gerações de estudantes hoje espalhadas pelo Brasil inteiro e que, tenho a certeza, guardam dentro de si, um grande carinho e admiração pelo seu grande Educador. Sei que também era respeitadíssimo pelos órgãos governamentais em S. Luís, onde, com seu jeito forte e cativante, conseguia o muito que precisava para o Colégio Pio X. O Governador João Castelo, nas duas vezes que conversámos, falou-me muito bem do Pe. Ângelo como educador e acrescentava, rindo, que mandou muito dinheiro para o Colégio Pio X. Com o Pe. Ângelo, ninguém podia: era um excelente argumentador e era difícil lhe resistir. Porque, sobretudo, além de Lógica, tinha trabalho e qualidade para mostrar... Certa vez vi as apostilas de Filosofia que ele dava para os alunos e fiquei impressionado pela qualidade e profundidade do conteúdo.
5. Eu cheguei a Balsas em 1967, quando o Pe. Ângelo acumulava as funções de Superior Provincial dos Combonianos, Reitor do Seminário e Diretor do Colégio S. Pio X. Ele, sem me consultar, já tinha destinado para mim: ficar com ele no Seminário como Vice-Reitor e ser professor de Português, Grego e Francês. Declinei da honrosa proposta e pedi para, antes de ser formador de seminaristas em Balsas, ir conhecer o Povo Brasileiro, na pastoral direta nas imensas paróquias do sertão sul-maranhense. Com um argumento muito simples: como poderia eu, acabado de me formar e de chegar da Europa, ser formador de padres para o Brasil, sem conhecer nada do Brasil? 
6. Eu era recém-ordenado e tinha passado 15 anos no seminário e estava mesmo precisando por as mãos na massa da pastoral direta, de contato imediato com o povo. Pe Ângelo, homem de princípios sólidos e simples, de pão-pão, queijo-queijo, não entendeu bem esse meu pedido que contrariava todos seus projetos de ter um professor português ensinando Português no seu seminário e colégio (já tinha espalhado a notícia em Balsas e em S. Luís...), mas se esforçou para entender e não atrapalhar. Mas sei que não foi fácil, pois era um carácter forte e decidido. E habituado a mandar e a obedecer sem discussão. A relação dele com os mais novos, ordenados após o Concílio Vaticano II, não foi fácil, devido à profunda mudança na mentalidade, inclusive sobre vida religiosa e a pastoral, mas houve um bom esforço recíproco de respeito, mesmo nas naturais e legítimas diferenças.
Passou os últimos 20 anos da vida dele na região de S. Paulo. Desse período, eu não tenho notícias dele.
Em breves palavras, foi o que lembrei, agora, sobre o Pe. Ângelo de Lassalandra (adotou este sobrenome quando se naturalizou português!)
Meus colegas padres combonianos, alunos em Viseu na década de 50, também poderiam ser convidados a dar seu parecer. Se for preciso, posso dar o e-mail de alguns deles. E alguns colegas do tempo de Pe. Ângelo em Balsas, também.
Agosto de 2008.

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